terça-feira, 31 de maio de 2011

Carta para Luíza (momento desabafo)

Hoje o post vai ser direcionado a uma pessoa... a pessoa que nos motivou a criá-lo. São tantas coisas que eu queria dizer a ela, mas não posso. Então, vou deixar registrado aqui para quando, daqui a alguns anos, ela puder ler...

Minha linda Luíza:
Entendo perfeitamente porque você gritou hoje na hora de pegar a veia. Já fazia um tempo que você vinha se controlando, mas tem dias que a gente está mais sensível, mais tensa, mais dolorida... queria te dizer isso lá na hora, porém, meu papel naquele momento era de mediadora. Eu precisava deixar você mais calma, já que era necessário colocar o acesso para o soro correr. Inevitável, meu amor, como muitas coisas na vida...

Você está entendendo isso da maneira mais cruel e dolorosa que uma pessoa pode entender. Está enfrentando situações que não foram feitas para menininhas fofas e pequenas como você passar. E isso está fazendo com que você amadureça bem mais rápido do que outras crianças da sua idade. Não posso te dizer que isso é bom, mas com certeza é uma vantagem que temos de enxergar nesse episódio todo.

Naquele momento que você berrava de dor enquanto as enfermeiras caçavam sua veia (que resistia em aparecer, tamanho era o frio desta manhã), eu olhava nos teus olhos e pensava: "como eu queria levá-la a lugares lindos, divertidos e gostosos, em vez de trazê-la nesse hospital e ver os seus olhinhos me implorando para tirá-la dali!".

Juro, se eu não fosse extremamente responsável pela sua saúde, eu tinha arrancado você daquela cama e corrido pra casa, para ficar com você deitadinha no sofá da sala assistindo Dino Dan!

Filha, sei que o pior já passou... tanto eu quanto o papai estamos cientes disso. Mas, por outro lado, nós não conseguimos mais amansar nosso coração. Sabemos que o tratamento não acaba com o fim das quimios. Ainda vamos conviver com a angústia em cada exame, com o medo em cada febre boba que você tiver...

Nos policiamos para tocar a vida normalmente. Você vai ter de volta sua vida (como você mesma diz). Com o fim das quimios, vai poder voltar pra escola, ir ao cinema, passear no shopping, viajar pra praia... estamos empenhados para que isso aconteça o quanto antes.

Pra você, isso será apenas uma vírgula na sua linda história. Isso é o mais bonito na infância. Ficamos só com o que vivemos. Não carregamos o peso da angústia e do sofrimento antecipado. Você pode até guardar na sua memória vagas lembranças dos dias de pânico de agulha, mas vai lembrar muito mais das brincadeiras com os coleguinhas de quimio do que das agulhadas...

Que bom que é assim!

Algumas vezes, quero te pedir desculpas por esses momentos difíceis. Não porque eu me sinta culpada por alguma coisa. Mas seria uma maneira de dizer que você jamais deveria ter passado por isso. Nenhuma criança deveria ter de enfrentar tudo isso. Aliááás, não desejo isso pro meu pior inimigo (nem sei se eu tenho algum...).

Diante de tudo isso que nos aconteceu, só tenho uma coisa a te dizer: nós te amamos demais! A cada dia que passa, sinto mais orgulho por ser sua mãe (e o papai também pensa assim). Você é forte, alegre, pura, autêntica, doce, carinhosa, inteligente... o meu pedaço mais precioso!

Vamos aguentar firme, pois você vai se libertar dessa rotina pesada. E vai sair vitoriosa, fortalecida e com muito mais vontade e pique para curtir as melhores coisas da vida. O mundo é seu, Luíza!

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Só para não deixar vocês, queridos leitores, preocupados: a Luíza está bem. Fez quimio hoje. Chorou bastante pra pegar a veia e quase teve uma recaída naquelas crises de pânico que costumava ter. Porém, o soro foi rápido e viemos cedo pra casa. Ela dormiu bastante à tarde e acordou bem-disposta agora à noite. Tanto que, quase 23h30, está acordadona e tagarelando.

O post de hoje é um momento desabafo. Sei que esse blog sempre mostrou que estamos enfrentando esse período da maneira mais positiva e alto-astral possível. Isso não é mentira! Não viemos aqui escrever bonito para esconder nossos sentimentos. Falamos sempre com o coração, tentando expressar o que realmente acreditamos (ou queremos acreditar!).

Mas quero deixar claro que não somos assim o tempo todo. Sim, temos convicção da vitória. Sabemos que nossa menininha está bem e no caminho certo. Está recebendo um ótimo antedimento e o organismo está reagindo como o esperado. Mas não podemos fingir que nossa cabeça só opera no positivo em 100% do tempo. Nos preocupamos muito, temos medos, pesadelos, ainda choramos escondidos no banheiro quando bate aquela tristeza. Normal! O tratamento é longo e nos faz vivenciar situações tristes no hospital, nos faz sofrer a dor de outras pessoas...

Nossa vida é mesmo um carrossel de emoções. Não precisamos de muito para nos alegrar, basta um sorriso da nossa princesa. Por outro lado, não é preciso muita coisa para dar aquele frio na barriga. Se ela fica um pouco abatida depois de uma quimio, já acendemos o sinal de alerta.

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Interrompemos esse post para uma notícia extraordinária: domingo, Luíza ganhou uma nova janelinha!!! Caiu o primeiro dentinho da arcada superior... justamente o da frente. Ela tá toda feliz!


E, a seguir, como transformar a sala de casa em um acampamento de bichos de pelúcia... rs




Beijos,

6 comentários:

  1. Ai prima, que vontade de estar aí pra te abraçar!
    Entendo o que você está sentindo, mais eu entendo de uma maneira não tão intensa da que vocês estão passando (só quem está vivendo essa situação sabe realmente). Achei lindo seu desabafo, sem duvidar de que a Luíza irá se recuperar 100%, mais sim, somos de carne e osso e tem dias que a gente cai um pouquinho mesmo.. é natural. E como você disse daqui um tempo a Luíza vai se lembrar mais das brincadeiras com as crianças da químio do que das agulhadas, sim, crianças são magníficas né, tem alma pura, leve, por isso estão mais perto de Deus. Rô, Lê, vocês foram os escolhidos para serem os pais desse guerreira, e saiba que Deus está sempre ao lado de vocês, ele não desampara nunca, e saiba que vocês também estão em nossa preces. Tenho muito orgulho de vocês!

    PS: A-DO-RE-I a janelinha nova da Lu, me fez lembrar de quando eu também fiquei de janelinha, rs!

    Um beijo enorme á todos, amo vocês!

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  2. Bela carta, Rose.
    Também temos a convicção da vitória, o que não tira o direito de algumas lágrimas, ainda que contidas.
    Mas o que desejo mesmo pra vocês são muitos e lindos sorrisos!
    E parabéns à Luiza pela nova "janelinha", sinal de que, apesar do amadurecimento precoce, a infância segue com suas fases.
    Beijos.

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  3. Rose, essa linda carta vai abrir um dos capítulos do livro - já estou em plena edição!!! rs. Um beijo, amiga, e continue com essa força descomunal.
    Fer VB.

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  4. Rose querida...Li a carta, vagarosamente e com muita emoção, sou mãe do Gu, você sabe, ele tem 5 anos, e por essa razão que me sensibilizo com cada frase escrita por você. Te admiro muito, e quero que saiba que aqui, mesmo longe, no meu cantinho, mando minhas energias boas para vocês aí, peço a Deus para que tudo volte a ser como era, o quanto antes, para vocês poderem passear muito juntos, se divertirem, como vocês merecem.Um abraço forte de todos nós da Família do Fernando.bjs...Adriana Alonso.

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  5. Vcs são lindas!!De verdade!
    Pra Iza: "A janelinha fecha
    Quando está chovendo
    A janelinha abre
    Se o sol está aparecendo
    Fechou, abriu
    Fechou, abriu, fechou
    Abriu, fechou
    Abriu, fechou, abriu".
    Bjos com gosto de Sol e Alegria pra vcs 2.

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  6. Rose, fiquei muito emocionado com o que acabei de ler... Sabe quando dá aquela vontade de correr e abraçar vocês...

    Tirar de uma zona de perigo e levar pra um cantinho sossegado longe de tudo e de todos.

    Torço por vocês, onde quer que vá... o que quer que faça.

    Um abração!!!

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